domingo, 31 de maio de 2009

Para Lembrar

Começa o fim do mundo hoje, daqui a 50 metros, daqui a 50 pessoas medíocres que veremos diariamente, enquanto aquele que poderia redimir tanta futilidade se vai. Esta coluna começou em 2006, por incentivo do Eduardo, que me convenceu a escrever sobre os acidentes das obras da linha amarela do metrô. Trabalhando em Pinheiros, temia passar perto do local do acidente (vai que o raio cai duas vezes sobre o mesmo lugar), e hoje evito passar pelas obras dessa linha na consolação, onde também morreu um funcionário, embora ninguém além de sua família tenha dado importância. Meu medo não se foi. O Edu, infelizmente, partiu. Também em 2006 foi criada a Lei Maria da Penha, importante instrumento jurídico para coibir a violência contra a mulher. Porém, embora a ONU a reconheça como uma das três leis mais modernas do mundo em benefício das mulheres, vários juízes brasileiros não reconhecem sua importância e a julgam inconstitucional, como verdadeiros homens das cavernas batendo no peito em defesa de seu "direito" de domesticar sua mulher através da porrada, assim como algumas empresas acham natural punir os funcionários com pancadas de pênis de borracha. A era da chibata nunca acabou. Se Barack Obama (que não é bonzinho pelo fato de ser negro, já que representa uma nação capitalista, que não prima pela igualdade sócio-econômica - salvo se for para dividir os prejuízos da quebra do Lemon Brothers) foi eleito presidente nos Estados Unidos, aqui no Brasil, presidente negro só de escola de samba. E nunca teremos um enquanto acharmos que o racismo é um problema pessoal dos negros, e não um problema social. Assim como a inexistente tripartição dos poderes - já que o Judiciário (todas as suas instâncias) profere decisões políticas e vinculadas aos interesses do Executivo (todas as suas instâncias) que, por sua vez, influencia o Judiciário e legisla, e o Legislativo faz mercância com interesses públicos - é um problema social nosso. Devemos militar para que o Senado trabalhe, e não para que seja destituído, como certos veiculos de notícias que falam em "ditabranda" nos querem convencer, para que a dura volte. Jesus não voltará e não descerá `a terra para nos salvar, ainda que as escolas públicas queiram reinserir o ensino reilgioso na grade curricular, nós devemos lutar pela Democracia. Tantas reformas necessárias à melhoria do ensino público, e o Governo se precoupa com o ensino religioso num Estado laico (em tese). Devemos exigir educação de qualidade. Serviços públicos de qualidade. E que o Estado não atrapalhe a qualidade dos serviços privados. Se os 18 milhões gastos pelo Senado em 2008 em serviços de telefonia fossem aplicados em educação, para começar, nossos serviços de telefonia já seriam melhores, pois, com um clientão como o governo, com esses gastos anuais, que empresa de telefonia se importaria em prestar bons serviços aos demais clientes? E se a saúde fosse tratada além dos problemas dos protocolos do SUS, talvez o Edu ainda pudesse ler esta coluna daqui a 50 metros, daqui a 50 dias, daqui a 50 amigos que não o esquecerão.

Débora Aligieri

Texto publicado na edição n. 68 do Jornal da Praça Benedito Calixto