sábado, 22 de junho de 2013

Um bonde chamado desejo

Polícia para quem precisa de polícia.
Aqui em São Paulo, a polícia não agiu com respeito algum em relação aos manifestantes, ferindo e prendendo vários deles, e ainda diversas pessoas que não participavam do protesto, inclusive jornalistas que cobriam o evento, o que não difere de sua cotidiana atuação nas periferias da Capital, pautada pela perseguição sistemática a pessoas negras (quando teve início a discussão das cotas para negros nas universidades, mediante autodeclaração como negro, as pessoas diziam que não era possível saber quem era negro ou não, e a "piada" girava em torno da seguinte frase: para saber, pergunte à polícia, eles sabem quem é negro e quem não é). A novidade desta vez, foi que brancos também foram perseguidos.

A polícia de São Paulo é violenta, e continuou assim durante os protestos. Aliás, a mobilização massiça ocorreu justamente depois do protesto do dia 13/06, por causa da reação antidemocrática da polícia militar de São Paulo. Da janela da minha casa, assisti os manifestantes passando pacificamente entre os carros, sem qualquer violência contra os motoristas ou contra as pessoas na rua (inclusive gritavam "sem violência"). Os policiais, por sua vez, seguiam os manifestantes lançando bombas de gás lacrimogênio, e "descendo a porrada" em quem estivesse pra trás. Um jornalista foi preso no dia 13 por carregar vinagre (que ameniza os efeitos do spray de pimenta quando inalado) na mochila. Assim, não se espera que uma pessoa atacada aja docilmente. Não é possível generalizar e dizer que todos os manifestantes que depredaram bens públicos agiram apenas para se defender, mas o fato é que sim, alguns deles utilizaram dessa manobra (sem juízo de valor sobre certo ou errado) como defesa. Alguns não, mas entre eles havia muitos policiais à paisana (chamados de P2), e tinha até um jovem filho de um empresário de empresa de ônibus, que iniciou um ataque à sede da Prefeitura de São Paulo, defendida por um cordão de isolamento por outros manifestantes. Neste caso, a polícia nada fez!


Cidadãos anônimos

Não estou tão otimista, embora considere que essas manifestações representam uma vontade legítima de participação popular nos destinos da nação. O fato é que, depois do pleito de redução da tarifa de ônibus, que já era bem cara aqui na Capital antes do aumento, os demais pleitos não tem objetividade alguma, e descambam para o esvaziamento do processo democrático (por exemplo, as propostas de impeachment da presidenta Dilma Roussef e do Governador do Estado de São Paulo Geraldo Alckmin). Protestar contra a corrupção é o mesmo que protestar contra a pobreza. Ora, ninguém é a favor da corrupção, mas qual o pleito?

Elevou-se à condição de representante do movimento o grupo Anonymous, que nada fez senão aproveitar-se da organização do Movimento Passe Livre (MPL), este sim com pleitos objetivos - redução da tarifa (a idéia, na verdade, é isenção de tarifa, conforme um projeto antigo da ex-prefeita Luiza Erundina) e melhoria do transporte público - para colocar na pauta de reivindicações uma série de pedidos que não se destinam ao Poder Executivo, mas ao Legislativo, e que mesmo assim são bastante descabidos. Um deles, que é a eliminação da PEC 37 (Proposta de Emenda à Constituição) é um verdadeiro grito vazio. A proposta, que pretende restringir as investigações de crimes à responsabilidade da polícia, ainda não foi votada, e necessita ainda de amplo debate pela sociedade. Eu, que sou advogada, tenho lido muitos artigos contra e a favor desta proposta, e ainda não firmei uma posição. O principal argumento de quem é a favor (inclusive a Ordem dos Advogados do Brasil) é que o Ministério Público, sendo o autor da ação penal, retiraria do processo a igualdade de oportunidades entre acusação e defesa, pois estaria conduzindo as investigações para provar sua tese acusatória. Acho válido o argumento, mas, por outro lado, existe a questão do alto índice de corrupção policial. Então, a questão não é tão simples assim, mas como a proposta foi tendenciosamente apelidada de "PEC da impunidade", recebeu grande adesão contrária à sua aprovação.

Quanto ao anonymous, minha questão é bem simples: se não confiamos tanto nem em pessoas que conhecemos, o que dizer então de pessoas que não fazemos a mínima idéia de quem são? Onde está a transparência tão defendida nos pleitos? Quer dizer, vale só para algumas pessoas?

Heil Hitler!

Há, inclusive, um incentivo à falta de organização, já que bandeiras de partidos políticos foram queimadas e hostilizadas durante os protestos, bandeiras de movimentos negros foram igualmente hostilizadas, e dos movimentos dos sem-terra (sempre chamados de vândalos porque, da mesma forma que estes protestos, tentavam chamar a atenção parando a cidade). E muitas dessas bandeiras foram queimadas por neo-nazistas, que estendiam seus braços na Av. Paulista como se Hitler lá estivesse.


Um bonde chamado desejo

Vejo assim uma conquista e uma derrota: a conquista da credibilidade no poder dos cidadãos de exigir seus direitos, e a derrota de presenciar que estes mesmos cidadãos não sabem diferenciar direitos de vontade, sendo facilmente manipuláveis, para fazer pressão, democrática ou não.

Débora Aligieri

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sábado, 1 de junho de 2013

DUO - estudo em vídeo (ou vídeo em estudo)

Estudo em vídeo para o fonograma DUO, de Silvia Vasconcellos, a partir do poema homônimo meu e da Rita Alves. O vídeo definitivo será feito pelo cineasta Patrício Salgado.