terça-feira, 26 de julho de 2016

sexta-feira, 10 de junho de 2016

sábado, 30 de abril de 2016

Corte, costura e o caralho!

 
O fim do mundo começa hoje, daqui a 50 metros, daqui a 50 votações das famílias mais lembradas por seus membros que ocupam (ou invadem, considerando que a ideia de ocupação está ligada a uma função social) cargos no Congresso Nacional. Nepotismo é proibido por lei no Brasil, mas benefícios indiretos a parentes, mesmo não correspondendo ao exercício de função pública (contrariando na verdade) não é pecado do lado de baixo do Equador (nem do lado de cima). Pecado mesmo é uma mulher lutar em defesa do aborto legal e em defesa da igualdade de oportunidades no mercado de trabalho. Estudo do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos publicado em março revelou que o número de mulheres que fazem doutorado no exterior ultrapassa o de homens, mas elas ocupam menos posições de direção, o que resulta em menores salários. Nenhuma delas deve ser bela, recatada e do lar, porque se assim fossem não precisariam se preocupar com a posição que ocupam, já que ocupariam o cargo de mulher de alguma figura masculina (ou seriam, como diria Rubén Blades, uma pareja plastica). Alguém sabe dizer sem fazer esforço o nome da mulher do Temer? Até os progressistas a chamam dessa forma para criticar a atroz - e atrás, no quesito evolução dos direitos das mulheres - reportagem da revista Veja (e seu complemento subliminar "apenas a verdade que fabricamos"). Assim como Simone de Beauvoir que, mesmo não sendo bela, recatada e do lar (era só inteligente, coitada!) nunca escapou de ser a mulher de Sartre. O ponto de referência é quase sempre um homem, da mesma forma que o ponto de referência de boa parte dos problemas no Brasil é a urgente necessidade de reforma do sistema político previsto na Constituição Federal, que permite o financiamento de campanhas eleitorais por empresas privadas e que promove a eleição de um candidato com apenas 3 votos entre 10 que o beneficiam indiretamente. Conquistamos com muito esforço a democracia e agora a entregamos à curadoria do google e do facebook - desde que você pague um plano de internet fixa que permite muito pouco acesso a conteúdos, conforme novo modelo da Vivo e outras (in)operadoras de telefonia - com suas realidades virtuais, não por estarem no ciberespaço, mas por destacarem apenas a parte que mantém o poder dos grandes grupos empresariais. A grande família global (a palavra fica livre à interpretação do leitor). E para respeitar a separação dos Poderes, se o Poder Legislativo protege a tradição e a família (que no projeto do Estatuto da Família aprovado na Câmara dos Deputados considera apenas o grupo formado por homem, mulher e filhos - nem mais, nem menos, nem diferentes integrantes), o Poder Judiciário protege a propriedade (mas não sua função social). O progresso (para trás) é tanto que logo mais teremos um novo acordo MEC-USAID, com o retorno das aulas de educação, moral e cívica nas escolas. Porque nesse modelo de sociedade o civismo não se relaciona com a cidadania, mas a bíblia (junto com a bala e o boi) direciona as decisões num Estado laico por definição constitucional, e mulheres só impedem a criação de uma comissão deliberativa sobre os direitos da mulher sem integrantes mulheres ocupando a cadeira do Presidente da Câmara dos Deputados, daqui a 50 metros, daqui a 50 dias, daqui a 50 anos, daqui a 50 golpes diuturnos na democracia...

Débora Aligieri


sábado, 23 de abril de 2016

Poema contra o tempo irrecuperável

Na lista de tarefas que não cumpri
O mais importante percebi
Ainda estou aqui.

Débora Aligieri


A persistência da Memória, Salvador Dali

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

O culto

I

Eu tenho que falar do desejo

Eu tenho que falar o que desejo

Eu tenho que falar que te desejo

Mas eu silencio


II

Esse desejo mudo

Esse desejo que não muda

Esse desejo que me muda

Mas me cala


Débora Aligieri