sexta-feira, 31 de maio de 2024

A manhã é sim

Numa noite etílica

Ele chegou chamando meu corpo

Quero sua bucetinha, eu sentia

As palavras que calavam

Mas pulsavam em sua mãos

Nas minhas pernas em apoio

Você é interessante, ele disse

Meu sexo sibilava

Minha vulva o envolvia, eu pensava

E beijava sua boca no breu

E o desejava dentro de mim

Apesar de demasiado desejo

Mesmo cachorra chorando de tesão

Pra provocar retruquei "Hoje não!"

 

Rosalina Marcondes

 

 

Poema para ser lido em voz alta para ouvir os sussurros das palavras como beijos fonéticos

domingo, 28 de janeiro de 2024

Soneto da Morte do Amor


O coração virou meu carcereiro

A alegria cedeu lugar à dor

Um estranho virou o companheiro

O mundo virou um lugar sem cor

 

Nossos corações sangram mas não batem

O nosso tempo os anos já não contam

Palavras de amor ao vento se abatem

Singularidades se desencontram

 

Entre nós nos tornamos estrangeiros

O que fomos, o que fui, o que era

Códigos e línguas particulares

 

Nos velamos em vida passageiros

Porque terminou como não se espera

Um amor fenecido entre ex-pares

 

Débora Aligieri

 

Mote do soneto: Na separação, velamos uma pessoa viva e um amor morto.

 

 Tela de Laura Salgado, originalmente em vermelho, fotografado em preto e branco

 

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

República

 


 

Deitados sob a sombra
O gato e o homem
O gato na janela do seu apartamento
O homem no passeio público

 

Débora Aligieri 

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Poema pândemico

Anti-corpo

Aqui
Onde estou
Não é mais

Aqui
Onde estou
Não sou mais

Aqui
Onde estou
Não há mais



 Grafite numa caixa de luz na Rua Maranhão/São Paulo

sábado, 30 de novembro de 2019

Cuidado com as coisas pequenas

Cuidado com as coisas pequenas
Porque elas podem ocupar grandes espaços no coração das pesssoas

Cuidado com as coisas pequenas
Porque é das pequenas coisas que nasce o encanto pela vida

Cuidado com as coisas pequenas
Porque apesar de pequenas, elas não deixam de existir

Cuidado com as coisas pequenas
Porque são justo essas as coisas que mais incomodam

Cuidado com as coisas pequenas
Porque elas tem a capacidade de ocupar qualquer espaço

Cuidado com as coisas pequenas
Porque elas podem se unir e se transformar no próprio espaço

Cuidado com as coisas pequenas
Porque essas coisas pequenas somos nós, pessoas comuns

E estamos chegando!

Antonio Berni. Manifestación, 1934.

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Olhos vampiros

Essa luz
me conduz
às trevas!



Poema: quase haicai escrito durante a experiência de um mês com conjuntivite grave, quando o sol se tornou meu pior pesadelo, e o entardecer meu maior desejo

Imagem: trabalho sobre a foto de grafite da Rua Treze de Maio (São Paulo/SP), parte do trajeto para a clínica de olhos a cada 48 horas para retirada das membranas formadas junto à retina

terça-feira, 4 de abril de 2017

Telefone sem frio (ou Conversas de segunda e quinta)

Existe uma dor que não é palavra
É menos e mais que a palavra ao mesmo tempo
É uma dor sem tempo, o tempo todo
Uma dor preciosa pela falta das palavras
De alguém que viveu além de suas palavras
De alguém que vive nas minhas palavras
Nas palavras trocadas por tantos anos
Desde que aprendi a dizer "papai"!

Débora Aligieri



eu, meu pai e minha irmã


eu, meu pai e minha mãe


minha irmã, meu pai e eu





Poema escrito por ocasião do falecimento de meu pai Artur Aligieri, em 1º de abril de 2017

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Rotação e translação

Esse é meu território
solo compartilhado
semeado com os sonhos de muitos
me cubro com o verde
das folhas que cobrem o chão
entre atos, entre vidas
entre flores e espinhos
caminho por essa terra

Ou é o solo, e as folhas, e as flores e espinhos 
e as vidas que me percorrem? 

Débora Aligieri

 

terça-feira, 26 de julho de 2016

sexta-feira, 10 de junho de 2016