sábado, 18 de julho de 2009

Uma gestão de silêncio

Começa o fim do mundo hoje, daqui a 50 metros, daqui a 50 anos, quando talvez a ANATEL tome outra atitude em prol da qualidade dos serviços que deveria regular. A suspensão do speedy da Telefônica, que não é bonitinho, mas muito ordinário, foi a única atuação da ANATEL, em mais de 10 anos desde a sua criação, em prol da melhoria do serviço de telefonia. Não conheço ninguém que obteve algum resultado reclamando ao órgão, mas tenho muitos amigos que reclamaram dos abusos da operadoras de celular e ficaram com os prejuízos, ouvindo como consolo "procure seus diretos". Não é isso que o cidadão está fazendo quando liga pra ANATEL? Pena que ela não liga pra ninguém que não possa trocar favores por cargos, pois essa é a moeda corrente entre as agências reguladoras e o governo. Este é o verdadeiro legado da privatização da telefonia e de outros serviços públicos. Pior ainda é a situação dos orelhões, pois os poucos existentes não têm manutenção da Teleafônica. Onde está a prometida melhoria e modernização dos serviços? Imagine o que acontecerá se se efetivarem as propostas de privatização de outros serviços vitais, como energia elétrica e transporte? Melhor não imaginar, assim como não imaginava a Claro o constrangimento, no mínimo, de seu empregado (homem) obrigado a usar uniforme feminino. Também não imaginava que seria obrigada a pagar danos morais numa reclamação trabalhista. Será mesmo que a Justiça Trabalhista é muito benevolente com os empregados em detrimento dos empregadores, como afirmam alguns advogados, ou apenas responde `a altura da exploração do Capital? E será que o Governador José Serra está fazendo campanha presidencial com propagandas da Sabesp no nordeste, ou apenas entrou no embalo do elogio em boca própria? Na entrega da Ordem do Ipiranga, prêmio concedido a artistas com longa trajetória cultural, o Governador vangloriou-se, afirmando que premiar a cultura ia além de suas obrigações estatais, segundo ele, restritas ao transporte coletivo (que também está uma mer...ma em São Paulo). Pelas ações (ou inações) do governo Serra, nota-se mesmo que ele não sabe que, além de transporte, educação, saúde, habitação e cultura também são deveres do Estado. Citando Romário, "calado é um poeta"! Calado também deveria ter ficado o Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, quando afirmou, um dia antes da audiência pública sobre saúde no Supremo Tribunal Federal (STF), que o Sistema Único de Saúde (SUS) revisava seus protocolos periodicamente, e no dia seguinte foi desmentido por seu representante lá enviado, ao propor justamente como melhoria a revisão periódica dos protocolos. Se não comparecer para a discussão sobre assunto em que foi nomeado como autoridade administrativa máxima do país é feio, ser desmentido é pior ainda. Pior mesmo é que a audiência pública quase não foi divulgada pelos veículos de notícias, Caras políticas, que preferem noticiar as brigas dos ministros do STF ao invés de incentivar a população a discutir seus direitos constitucionais. Tantas necessidades na área de saúde incentivaram o governador do Estado a tomar uma importante decisão: proibir o fumo em ambientes fechados. Grande idéia (copiada de outros países)! Além de invadir competência legislativa da União, esta lei representa medida insignificante para a saúde da população paulista. Se o proprietário do estabelecimento não desejar que fumem dentro dele, basta proibir, já que se trata de uma propriedade PRIVADA, e quem manda lá dentro é o dono, não o Estado. Se o governo estadual quer mesmo garantir a saúde de seus governados, porque não começa cumprindo a lei estadual que garante o fornecimento de todos os insumos de diabetes? Aí, tudo muda de figura, porque a secretaria da saúde, para descumprir sua própria lei, transfere a responsabilidade para a União, afirmando que os insumos não estão no protocolo do SUS, que não é revisado, e que, se depender da massa e de seus veículos de comunicação, não será revisado daqui a 50 metros, daqui a 50 dias, daqui a 50 anos...
Débora Aligieri e gato Monk

Coluna do Jornal da Praça Benedito Calixto, edição n. 70
Imagem: Estudo de desnudo em pé, de Charles-Antoine Coypel (França, 1661-1722)

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