domingo, 25 de novembro de 2012

Consumidores de desigualdade


O fim do mundo começa hoje, daqui a 50 metros, daqui a 50 civis mortos pela Polícia Militar sob a acusação não comprovada de envolvimento com o PCC. Os números comparativos da violência na Capital de São Paulo entre 2011 e 2012 registram crescimento dos casos de homicídios, seja porque a Polícia escolhe na sorte (ou azar?) os participantes da facção criminosa, seja porque falseou os números do ano passado. Lembro que em 2011, enquanto o Governo do Estado de São Paulo alardeava a queda da violência, alguns jornais noticiavam também que os números então divulgados estavam maquiados, pois desconsideravam uma série de ocorrências que faziam os tais registros serem bem maiores. Esse é o típico caso do feitiço que virou contra o feiticeiro, e mesmo trocando os números, ou trocando o Secretário de Segurança, a violência e a desiguldade em São Paulo continuarão iguais: sempre enormes! O triste é que as pessoas só acreditam nisso se passar no Fantástico. Ontém presenciei uma batida policial na Rua da Consolação, em que 4 policiais revistavam maios ou menos umas 50 pessoas de uma vez. Coincidentemente, a grande maioria delas era negra. É a Black Friday da Polícia de São Paulo, festa da humilhação corporativa. E essa tal de black friday, inovação capitalista trazida dos states para o Brasil, não passa de mais uma desculpa, a exemplo do dia das mães, pais, crianças, avós, canários e etc, para empurrar a preços supostamente mais baixos produtos que as pessoas não precisam comprar. E os descontos são tão falseados quanto os números da violência em São Paulo de 2011. Tudo mentira! E a maioria dessas pessoas que fica feliz em aproveitar as tais "ofertas" pragueja contra o feriado da Consciência Negra, porque o Brasil seria um país miscigenado, de oportunidades iguais. Mas quando se trata de oferta de trabalho, é tudo bem diferente, basta verificar a predominância em quase todos os estados brasileiros de mulheres negras que trabalham como empregadas domésticas, segundo dados do IPEA e do IBGE, sendo que as domésticas negras ganham menos que as brancas e são menos registradas também. Nessa semana as trabalhadoras domésticas conquistaram mais direitos trabalhistas, originando uma manchete num jornal de Pernambuco onde se dizia que ficaria mais caro "ter" empregada. Conforme especialistas no assunto, aproximadamente 50 reais a menos em no bolso dos patrões e patroas, de onde sai muito mais para aproveitar a Black Friday. E se tem dia pra tudo, porque também não criar o dia do mensalão? Parece piada mas não é. Existe uma proposta nesse sentido na Câmara dos Deputados, para comemorar o resultado de um julgamento em que foi possível tripudiar sobre a fama de partido ético do PT. Agora tá tudo certo, não temos mesmo nenhum partido ético ou dotado de linha ideológica clara. Vamos comemorar! Não porque se julgou uma prática de corrupção deletéria à democracia, mas porque o PT ocupava o banco dos réus. Mas será que as práticas de corrupção de outros partidos também serão julgadas? Ou a tal teoria do domínio do fato foi alinhavada só para condenar José Dirceu? Condenado mesmo foi José Serra pelo PSDB, nocauteado pelos colegas de partido em programas de entrevistas, após a derrota para Fernando Haddad na disputa pela prefeitura de São Paulo. Tudo para preservar a imagem do partido. Procedimento tão deprezível quanto a compra de votos para a reeleição de Fernando Henrique em 1998. Tá vendo, até voto se compra. Aliás, esse é um produto bastante antigo no mercado, cujo valor, segundo a opinião pública, se modifica dependendo do território: se é nos Estados Unidos, é lindo! mas se é no Brasil, é um fardo que deveria se tornar facultativo. O voto é um direito, sendo ele facultativo ou obrigatório. Ponto! Mais uma vez, diferença. Mas agora temos um Presidente do STF negro, o único entre 11 Ministros, Joaquim Barbosa. Nas notícias sobre a posse, a parte mais importante do discurso foi cortada, porque feria de morte os interesses dos grandes empresários brasileiros, aqueles que conseguem empréstimos enormes do BNDES, e depois culpam a alta carga tributária brasileira pelo custo Brasil. Quem pensa que o Governo Executivo é o único responsável pelas mazelas de nosso país está enganado, porque por trás de cada mazela existe um empresário lucrando com isso. Com a desigualdade, com a black friday, com a felicidade da chamada classe "c" por poder consumir mais. A felicidade se compra em qualquer mercado, no seu nome escrito numa lata de coca-cola. Não entendo essa corrida à procura do nome da família inteira num refrigerante, porque eu corro dela. Isso é um cuspe na cara do consumidor: estamos fazendo você comprar um produto porque tem o seu nome, que nós usamos sem lhe pagar nenhum direito! Legal mesmo seria uma competição para ver qual nome seria o mais encontrado nas latinhas jogadas nas sarjetas: José (Serra, Dirceu), Marcos (Valério), Daniel (Dantas) ou Eike (Batista)? Neste caso, só as latinhas vão pra sarjeta mesmo, porque preferimos comprar coca-colas nomeadas a registrar nossas domésticas, porque a desigualdade leva as pessoas para serem revistadas nas ruas de São Paulo, daqui a 50 metros, daqui a 50 anos, daqui a 50 poiliciais militares (todos de baixo escalão, de milícias ou não) mortos...

Débora Aligieri

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