domingo, 24 de fevereiro de 2008

Jornal do Apocalipse no Jornal da Praça Benedito Calixto, edição n. 60

Começa o fim do mundo hoje, daqui a 50 metros, daqui a 50 alimentos básicos que deixarão de ser básicos porque o governo não subsidia o preço do feijão pros brasileiros continuarem a comer o arroz com feijão de cada dia. Mas sempre teremos bolachas, Paris nunca, porque a Paris dos sonhos só têm os portadores do cartão corporativo, que lhes garante desde tapioca a almoços nas churrascarias paulistanas. Fazer parte do governo: não tem preço! E não quero nem entrar no mérito dos denunciados serem justamente os ministros negros, depois de ouvir de uma amiga (branca) que a ministra da Igualdade Racial só apareceu depois desse escândalo, que nunca fez nada relevante antes. Mas, e os demais inertes que continuam acobertados nas asas presidenciais? As asas do desejo com cara de remake piegas com Meg Ryan e Nicholas Cage, porque não falta balcão de negócios aqui, seja no ar ou na água, já que voltamos ao tempo das monções, do negócio das águas. A diferença é que antes mercadorias eram vendidas pelo leito dos rios, e agora, os próprios rios são mercadoria barata na mão de plantadores de cana-de-açúcar e pecuaristas da Amazônia, sob o falso argumento de irrigação das regiões secas do nordeste pela transposição do São Francisco. Direito humano à água aqui só para o uso econômico das empresas. Água para uso doméstico, necas. Também, lavar roupa pra quê? Ficar pelado dá mais lucro, veja as "celebridades" (que nunca fizeram nada de notório pra humanidade senão mostrar a bunda na Playboy). Aliás, as bundas são melhores do que as caras de bunda, e mais notórias também. Não importa o que fez de bom (ou de ruim), o importante é ser fashion. Até na escolha da melhor escola de samba o critério fashion foi usado, porque os quesitos mais importantes eram comissão de frente e alegoria e adereços. E a bateria? Samba não é um ritmo? Estou confusa! Se a Constituição afirma que o Estado é laico, porque a Igreja insiste em se imiscuir nos assuntos de Estado, protestando contra a distribuição de camisinhas e pílulas do dia seguinte no carnaval? Quem são os verdadeiros travestis no Congresso: os homens que se vestem de mulheres, ou os homens eleitos que só fazem aprofundar a desigualdade, deixando de votar projetos que garantam saúde, educação e moradia aos seus eleitores? Ah, com educação se aprende a votar, não pode, porque o fim do mundo começa hoje, daqui a 50 metros, daqui a 50 Vai Vais ganhadoras pela força da comunidade, goela abaixo dos especuladores imobiliários, que pretendiam deixar o Bixiga vertical...

Débora Aligieri
Jornal da Praça Benedito Calixto
Foto: Eduardo Barrox

Nenhum comentário:

Postar um comentário