terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Jornal do Apocalipse no Jornal da Praça Benedito Calixto, edição n. 58

Começa o fim do mundo hoje, daqui a 50 metros, daqui a 50 reservas de petróleo oportunamente descobertas, (assim como ensinam para as crianças nas escolas que o Brasil foi casualmente descoberto em 1500), para acobertar as falcatruas governamentais em torno da aprovação da CPMF, e de qualquer outro assunto que importe em desvio de verba da educação e da saúde. Porque basta elogiar o programa público de controle de natalidade, ignorando a distribuição de camisinhas furadas na parada gay de São Paulo, que se descobre a distribuição de anticoncepcionais sem efeito por um governo sem efeito. E se nascer uma menina é ainda pior, porque "nunca neste país" as mulheres foram tão vilipendiadas, e sob o lastro do Poder Judiciário, porque juízes misóginos acusam a lei Maria da Penha de monstrengo. Lógico, eu ouvia quando pequena que "todo homem que sabe o que quer pega o pau pra bater na mulher", mas achava que isso era só uma paródia. Nos Estados Unidos um pastor afirmou que foi abduzido pelo demônio. Aqui um juiz disse que as mulheres, desde Eva, são a origem de todas as mazelas humanas. Deve ser por isso que no Pará (só lá?) prenderam garotas no meio de um bando de homens, para que elas expiassem sua culpa de terem nascido mulheres, e serem muito provocantes. Minha dúvida é quem violou primeiro: o Estado, os mocinhos ou os vilões (e quem são os vilões?)? E se nascer uma menina preta será pior ainda, porque a vida inteira vai ouvir que não há preconceito no Brasil, embora muitos sejam contra o feriado do orgulho da raça negra. Precisa ser mais óbvio? Quando brasileiro é contra um feriado? E por que a elite cansada não foi à passeata em prol da igualdade racial? Talvez encontremos a resposta pelas recentes pesquisas, que apontam que os processos judiciários demoram porque estão parados nos cartórios e que muitos jovens usam drogas. Impressionante pesquisa! Mais impressionante que esses dados só os indicadores do índice de desenvolvimento humano, em que o Brasil ocupa o 70o lugar (acima apenas de países africanos). Neste inferno em que demônios de bigode se degladiam pelo tridente de liberação de verbas do PAC em época eleitoral, temos um salvador, que nos traz sempre a boa nova, o sermão da montanha, do alto do morro onde diariamente falta água e sobra bala perdida, cujas palavras nos consolam, logicamente após boas doses de pinga, porque o fim do mundo, espero sinceramente eu, embora nisso não confie, não vem daqui a 50 metros, daqui a 50 natais, daqui a 50 aniversários, daqui a 50 reveillons...

Débora Aligieri

Jornal da Praça Benedito Calixto

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