quinta-feira, 15 de maio de 2008

Jornal do Apocalipse no Jornal da Praça Benedito Calixto nº 62

Começa o fim do mundo hoje, daqui a 50 metros, daqui a 50 mortos por dengue, daqui a 50 tragédias comercialmente lucrativas para jornais televisos e impressos, o que é até explicável, já que dependem de números de audiência e de venda da edição para garantir o rico patrocinio de cervejarias e industrias automotivas, mas o que é incompreensível é o desvio da atenção das pesoas da própria vida (de seus problemas) para cuidar da vida alheia. E antes de condenar irracionalmente os supostos culpados pela morte da criancinha, será que alguém se lembrou da escola base? Será que alguém se lembrou de perguntar ao seu parceiro como foi seu dia, ou se resolverão logo suas pendências emocionais? Será que alguém achou estranho as investigações tão rápidas porque a tv acompanha todos os dias? E as nossas queixas sem repercussão nacional, porque demoram meses pra resolver, meses pra ouvir uma única testemunha? Desligadas as câmeras, desaparece a eficiência do Poder Público. Só o Presidente quer trabalhar, e aprovar a lei orçamentária, e partir rumo `a campanha do terceiro mandato. Só falta uma plaquinha de funcionário do mês. Deixa o homem trabalhar. Afinal de contas, o trabalho dignifica o homem, não é mesmo? Que o digam os supervisores de telemarketing obrigados a se vestir de palhaço, bruxa, caipira e baiana para incentivar os colegas a atingir as metas, ou os 30% dos caminhoneiros que trafegam pelo Mato Grosso `a base de cocaína e de outros estimulantes químicos, pra aguentar a carga horária pesada. Mas, se há problemas no transpote, é só diminuir a possibilidade de utilizar o bilhete único (principalmente se isso agradar as empresas concessionárias de transporte público). E se há problemas com o derretimento do dólar, basta retirar a verba da saúde para realizar investimentos. Mas a verba da saúde é tão pequena (ou mal gasta?) que não garantiria nem o crédito do cartão corporativo que, finalmente, revelou gastos de verdadeira necessidade: pênis de borracha, pra primeira dama mostrar pro presidente como é que se faz, ao contrário do senado, que mostra escondendo. O que é divulgação de atividade parlamentar? Que transparência mais opaca é esta? É o lado negro da força, porque transparência verdadeira não existe aqui, porque o fim do mundo começa hoje, daqui a 50 metros, daqui a 50 orgãos doados em troca de um caixão.
Débora Aligieri
Jornal da Praça

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