sábado, 27 de setembro de 2008

Jornal do Apocalipse no Jornal da Praça Benedito Calixto

Começa o fim do mundo hoje, daqui a 50 metros, daqui a 50 dias, quando estiverem eleitos os novos (ou já antigos) prefeitos e vereadores, momento propício para a criação de novos cargos em comissão no Senado Federal. Segundo Garibaldi Alves Filho (Presidente da casa) não houve unanimidade em torno da proposta, mas a verdade é que eles só vão deitar e rolar (e criar novos cargos comissionados) depois que os representantes municipais de seus partidos estiverem eleitos. Antes das eleições, só é permitido construir casas, hospitais, tudo o que não foi feito durante o mandato. Depois volta tudo ao normal (`a inoperância estatal). E se o cidadão for bem miserável ainda ganha um presentinho do candidato em troca do voto. Em São Paulo, metade dos vereadores candidatos `a reeleição adota essa prática, definida como crime na lei eleitoral (embora não se tenha notícia de prisão). Mas qual seria o problema em aceitar um favorzinho de nada em troca de um voto? Nenhum, além da falta de incentivo ao esporte, que levou Diego Hipólito a cair de bunda na China; nenhum além da ausência de remédios com tecnologia avançada nos postos de saúde, e de Secretarias de Saúde (como a do Estado de São Paulo), orientadas a fornecer medicamentos apenas mediante ações judiciais, pois sai mais barato para o Estado; nenhum além da ausência de programas habitacionais, acompanhada da lei de protesto de dívidas de condomínio, sancionada pelo Governador José Serra, legalizando a coação, pois se já existe a ação judicial de cobrança, o protesto só serve pro cidadão perder qualquer possibilidade de saldar suas dívidas mediante empréstimo bancário, pois nunca vai conseguir um depois de ter o nome protestado; nenhum além de diretores do departamento de trânsito (DETRAN), como o do Distrito Federal, que acha pouco duas mortes/mês a menos depois da lei seca (será que a família daquelas duas pessoas que morreram no mês anterior pensam o mesmo?); nenhum além de uma polícia civil tão inoperante que, quando em greve, ninguém nota, porque o efetivo policial não o é muito. Se tudo isso fosse na Argentina, a imprensa diria que é um absurdo, como o fez no caso do overbooking da Aerolíneas argentinas. Se isso não é xenofobia, não sei o que é. Rivalidade esportiva se difere de uma propaganda de chinelinhas que incentiva o preconceito. Pelo menos lá a tecnologia funciona como facilidade, ao contrário daqui, onde facilidades se transformam em dificuldades, como no caso do show da Madonna. Se bastam 4 minutos para salvar o mundo, para comprar um ingresso era necessária uma noite inteira na internet, ou ao telefone, ou um dia inteiro nas filas dos postos de venda. Em 93, quando inexistia internet e cartão de crédito (no Brasil), comprávamos ingressos tranquilamente. Naquela época, entretanto, não se comprava o direito de não ser algemado, como compram os cacciolas, porque pobre vai continuar sendo algemado e humilhado nas redes de tv. Também não se discutia no STF (que barra 60% dos recursos a ele apresentados por alegada ausência de relevância nacional) habeas corpus de chimpanzés. Nem Esopo foi tão longe em suas fábulas! Quem sabe voltaremos a ser macacos, daqui a 50 metros, daqui a 50 dias, quando estiver chegando o Natal, e o Papai Noel lhe der um tiro bem no meio da testa...

Débora Aligieri
Ph: Eduardo Barrox

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