quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Terra de cegos

Num casebre na área rural de Sebastianópolis do Sul, a 510 km de São Paulo, 27 pernambucanos, maranhenses e piauienses dividem há seis meses dois cômodos com beliches improvisados e um único banheiro. Todos foram aliciados por agentes que prometeram casa, comida e emprego temporário nas lavouras de cana no interior paulista.
Do lado de fora do casebre, o esgoto corria a céu aberto. Filhotes de porco transitavam livremente ora na cozinha ora no esgoto, fuçando nos restos de comida. “Temos encontrado situações como essa em várias regiões do Estado”, disse o auditor fiscal João Batista Amâncio. Apesar da precariedade, cada trabalhador paga R$ 32 de aluguel. A viagem de três dias até São Paulo custou R$ 260 e foi descontada do salário. A alimentação também fica por conta própria. Com todos as despesas, Silva diz sobrar muito pouco dos R$ 720 que recebe todo mês.
Nos canaviais, a precariedade é ainda maior. Os migrantes têm de cumprir jornada inegociável: 12 horas de trabalho para cortar ao menos 200 metros de canavial, se quiserem ganhar R$ 30 por dia. Muitos contam que os equipamentos de segurança não têm sido repostos. Dificilmente, entretanto, eles resistem a sete, oito meses de colheita.

Em pé de guerra com a fiscalização contra o trabalho escravo, a União Democrática Ruralista (UDR) acusa fiscais de radicalismo e nega trabalho escravo em terras de produtores rurais. “Não acredito que haja trabalho escravo no Brasil por parte dos produtores rurais”, diz o presidente da UDR, Luiz Antônio Nabhan Garcia. Nabhan diz que a “ala radical do Congresso” busca pretexto para tomar terras de fazendeiros - há projeto que prevê isso em casos de condenação judicial por trabalho escravo. O lobby da bancada ruralista, porém, mantém a proposta engavetada há 2 anos.

Fonte: O Estado de São Paulo

Um comentário:

  1. e mais: pesquisas dizem que o consumo de crack aumentou consideravelmente nas áreas de canaviais. os caras fumam pra suportar as agruras do dia-a-dia. com isso é fácil projetar violência além do normal nos próximos anos. como a plantação de cana tomou conta de boa parte do solo fértil brasileiro também é fácil projetar o tamanho da 'violência'. as condições de trabalho são absurdas e absolutamente desumanas. a poluição causada pela queima de cana é insuportável. conversei com uma fazendeira que produz cana pras usinas; ela me disse que já haveria condições de se evitar a queima, mas ninguém sabe (leia-se o governo e usineiros) onde colocar ou relocar a mão de obra que ficará ociosa e sem trabalho. ao mesmo tempo os usineiros estão entre as maiores fortunas do país, ditam as regras e os preços. se alguém sugerir que parte do lucro deveria ser revertida a favor dos trabalhadores se ferra porque isso é papo de anarquista. e por aí vai. agora tenta dormir, baby.

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